O feminismo, ao longo da história, tem se configurado como uma contracultura, desafiando estruturas patriarcais e promovendo uma redefinição dos papéis de género na sociedade. De acordo com os pressupostos dos estudos culturais, que analisam a cultura como um campo de disputa e resistência (Hall, 1997), o feminismo estabelece-se como uma força contestatória que questiona o status quo.
Durante o século XX, diferentes correntes feministas emergiram, cada uma propondo estratégias e críticas específicas. O feminismo liberal, por exemplo, busca a igualdade dentro das instituições existentes, promovendo mudanças legislativas e o acesso igualitário a direitos (Friedan, 1963). Em contrapartida, o feminismo radical argumenta que o patriarcado é a raiz das opressões de género, defendendo transformações estruturais profundas na sociedade (Firestone, 1970). Já o feminismo interseccional, formulado por Kimberlé Crenshaw (1989), enfatiza que as opressões de género são atravessadas por outros marcadores, como raça, classe, identidade de género, deficiência e outras categorias identitárias e sociais.
A relação entre feminismo e contracultura é evidente nos movimentos sociais que desafiaram normas hegemónicas. Durante a segunda onda feminista, nas décadas de 1960 e 1970, ativistas confrontaram a objetificação feminina e reivindicaram autonomia corporal, culminando em debates sobre direitos reprodutivos e violência de género. No contexto atual, movimentos como o #MeToo continuam essa tradição, utilizando plataformas digitais para expor dinâmicas de opressão e exigir responsabilização social.
O feminismo, portanto, ao desafiar construções culturais e institucionais que sustentam a desigualdade de género, exemplifica uma contracultura que resiste à hegemonia e propõe novas formas de organização social. Como afirmam os estudos culturais, a cultura é um espaço de luta, e o feminismo permanece como uma das mais significativas expressões dessa disputa.
(1) imagem disponível em: https://jamesnudes.getarchive.net/amp/media/congresso-feminista-lisboa-1928-b08768 acesso em 21 de Fev, 2025 – Congresso Feminista Lisboa 1928
Bibliografia
- CRENSHAW, Kimberlé. “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence against Women of Color.” Stanford Law Review, vol. 43, no. 6, 1991, pp. 1241-1299.
- FIRESTONE, Shulamith. The Dialectic of Sex: The Case for Feminist Revolution. William Morrow, 1970.
- FRIEDAN, Betty. The Feminine Mystique. W.W. Norton & Company, 1963.
- HALL, Stuart. Representation: Cultural Representations and Signifying Practices. Sage, 1997.