:Teorias e Metodologias

Stuart Hall e a Teoria da Codificação-Decodificação: Comunicação e Poder

Stuart Hall, uma das figuras centrais dos estudos culturais, revolucionou a forma como entendemos os media e a comunicação com a sua teoria da codificação-decodificação. Esta abordagem, desenvolvida no final dos anos 1970, desafia a ideia tradicional de que as mensagens mediáticas são recebidas de forma passiva e unívoca pelo público.


O que é a teoria da codificação-decodificação?

Hall propõe que a comunicação mediática é um processo de duas etapas fundamentais:

  • Codificação: É o acto de produzir a mensagem, quando os produtores (jornalistas, cineastas, publicitários) criam um conteúdo com determinado significado, intenção e ideologia embutidos.
  • Decodificação: É o processo pelo qual o público interpreta e atribui sentido à mensagem recebida, um acto que pode variar consoante o contexto cultural, social e pessoal dos recetores.

A ideia central é que o significado não é fixo nem garantido na mensagem original — ele depende da forma como o receptor a lê e interpreta.


Os três tipos de leitura

Hall identifica três possíveis formas de decodificação:

  1. Leitura hegemónica (ou dominante): o receptor aceita a mensagem como foi codificada, concordando com os valores e intenções do emissor.
  2. Leitura negociada: o receptor reconhece a intenção da mensagem, mas interpreta-a de forma crítica ou adaptada à sua própria experiência, podendo aceitar algumas partes e rejeitar outras.
  3. Leitura oposicional: o receptor rejeita o significado pretendido pela mensagem e cria uma interpretação alternativa, muitas vezes crítica ou contestatória.

Reflexão crítica: o poder da interpretação e as limitações da teoria

A teoria de Hall é fundamental porque reconhece que o público não é um ente passivo, mas um agente activo na construção do significado. Num mundo saturado de informação e media, esta perspetiva dá espaço para a diversidade de vozes e resistências culturais.

No entanto, algumas críticas apontam que a teoria pode idealizar demasiado a autonomia do receptor, ignorando as estruturas de poder e os mecanismos económicos que condicionam a produção e circulação das mensagens. Por exemplo, os media comerciais e conglomerados detêm um enorme controlo sobre o que é produzido, limitando assim o campo das possíveis interpretações a opções mais restritas.

Além disso, com o advento das redes sociais e da comunicação digital, o papel do produtor e do receptor tem-se tornado cada vez mais fluido, dificultando a aplicação linear da codificação-decodificação. Os próprios utilizadores são agora produtores de conteúdos, misturando codificação e decodificação num processo contínuo.


Conclusão

A teoria da codificação-decodificação de Stuart Hall continua a ser um marco essencial nos estudos culturais e na análise dos media. Ao desmistificar a comunicação como algo unidirecional, abre caminho para compreender a complexidade das interações entre poder, cultura e interpretação.

Para quem vive em Portugal e no espaço lusófono, esta abordagem convida-nos a refletir sobre como as mensagens mediáticas são recebidas nas nossas diversas realidades culturais e sociais, e como podemos, enquanto públicos críticos, negociar ou até contestar os discursos dominantes.

(1) imagem disponível em: https://www.taalhammer.com/cultural-studies-exploring-cultural-phenomena-for-language-learning/ acesso em 28 de Maio, 2025 – Cultural Studies: Exploring Cultural Phenomena for Language Learning

Bibliografia

  • Hall, Stuart. (1980). “Encoding/Decoding”. In Hall, Stuart; Hobson, Dorothy; Lowe, Andrew; Willis, Paul (eds.) Culture, Media, Language. London: Hutchinson.
  • Hall, Stuart. (1997). “Representation: Cultural Representations and Signifying Practices”. London: Sage Publications.
  • Morley, David & Chen, Kuan-Hsing. (1996). “Stuart Hall: Critical Dialogues in Cultural Studies”. London: Routledge.
  • Corner, John. (1999). “Critical Ideas in Television Studies”. Oxford: Oxford University Press.
  • Fiske, John. (1990). “Introduction to Communication Studies”. London: Routledge.
  • Kellner, Douglas. (1995). “Media Culture: Cultural Studies, Identity and Politics Between the Modern and the Postmodern”. London: Routledge.

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